4 de abr. de 2011

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Deputado José Dias critica PMDB, diz que vai para o PSD e demonstra ceticismo quanto a Copa de 2014.
O deputado estadual José Dias se orgulha de ter sido filiado a apenas dois partidos em toda sua vida pública: o PMDB, pelo qual conquistou seus sete mandatos na AL, e o antigo PSD de Juscelino Kubitschek, extinto pela ditadura militar.

Em entrevista a O Poti/Diário de Natal, José Dias mostra grande ceticismo em relação aos supostos efeitos benéficos da Copa do Mundo-2014, faz duras críticas a seu atual partido, bem como às gestões de Wilma de Faria e Iberê Ferreira de Souza (PSB) à frente do governo do estado. Ele atribui ao governo Lula a maior parte da culpa pelo "retrocesso institucional" que considera ter afligido a política brasileira.

Confira a entrevista de José Dias a O Poti/Diário de Natal:
Fotos: João Gilberto

Como o senhor compara a forma de se fazer política do Brasil de hoje com o ano de 1986, em que venceu sua primeira eleição? Houve evolução ou retrocesso nesse período?

José Dias - Essa é uma análise muito complexa. Os cientistas políticos e sociólogos têm uma dificuldade muito grande para definir as evoluções, avanços e melhorias institucionais, bem como os atrasos e derrocadas. O professor Renato Janine Ribeiro faz uma distinção entre democracia e republicanismo. É evidente que do ponto de vista democrático nós evoluímos, não apenas com a liberdade que se ampliou, mas por uma consciência da sociedade e dos políticos de que a democracia favorece a luta pela igualdade. Mas sob o ponto de vista republicano, no respeito à ética e a diferenciação entre o público e o privado, eu acho que a situação degringolou. Tivemos realmente a acentuação da corrupção, principalmente nos últimos oito anos, envolvendo toda a sociedade. Foi um processo muito abrangente e não dá para julgar por segmento. Essa é uma conclusão que Janine tira e eu concordo: evoluímos do ponto de vista democrático e involuímos bastante no aspecto republicano, de respeito à coisa pública.

Por que essa involução se deu em especial nos oito últimos anos, que correspondem ao governo Lula?

José Dias - Estabeleceu-se também uma cultura violenta da impunidade. Não sei se Lula seria o comandante supremo, seria o Kadafi dessa história, ou se foi influenciado pelo próprio grupo. Mas eles estabeleceram uma meta de domínio político e uma forma de exercê-lo. Para executar esse projeto, não se preocuparam com os meios. Para mim, o mais grave é que eles difundiram uma cultura em que se podia fazer tudo. A própria empáfia do presidente, que tem uma origem humilde, mas não agiu com humildade durante o mandato, nem age agora.

O senhor acha que ele é arrogante?

José Dias - Arrogante no sentido tradicional, do sujeito que quer pisar por cima de todo mundo, não. Mas Lula se acha um privilegiado, acha que pode mais do que os outros. A arrogância não tem obrigação de ser explícita, como em certas pessoas. No caso dele, havia muito de coisa trabalhada. Você vê, mesmo agora quando ele recebeu o título de Doutor Honoris Causa em Coimbra# eu acho que nem Napoleão Bonaparte faria um discurso de tanta exaltação pessoal. Lula diz que fez uma revolução no Brasil. É um termo que tem mil significados, mas para mim ele quer dizer que transformou as coisas, com a implantação de uma nova ideia. É como se tudo tivesse começado com ele. Como a gente não concorda que a História acabou, também não vamos concordar que a História começou com ele. Foi isso que para mim trouxe um grande atraso nas instituições brasileiras.

Mas o PMDB participa com uma grande presença no governo nesse período. E aumentou sua influência agora, com Dilma. Como o senhor avalia o papel do PMDB no processo?

José Dias - Meu grande incômodo e minha grande dificuldade com o PMDB de hoje é exatamente essa. O PMDB de Ulysses Guimarães, de Aluízio Alves, era um partido que tinha uma certa coerência. Não me lembro de Doutor Ulysses se bandear para o lado do poder, após uma eleição, apenas pelo poder. Não se pode acusá-lo de ter se servido da coisa pública. Tinha atitudes corajosas e convicções firmes. Esse foi o PMDB com que eu realmente sonhei. Confesso com toda a sinceridade que o PMDB atual#. a gente por temperamento e formação tem dificuldade de fazer certas coisas, como sair do partido. Nunca fiz isso. Do PMDB eu posso até sair porque a situação pode se tornar irrespirável. Não acho que a vida em geral deva ser asséptica, como se fosse uma assembleia de anjos. Somos seres humanos e os defeitos são inerentes a essa condição. Não há como vencê-los. Até os santos tiveram alguma queda. Só quem não teve foi Jesus e Nossa Senhora. Não sou moralista, mas acho que tudo tem um limite. Defendo a razoabilidade. Por exemplo, quando você ganha uma eleição e se estabelece no poder com o apoio majoritário da opinião pública, tem que administrar respeitando a minoria, mas procurando satisfazer a vontade da maioria que lhe escolheu. Estamos chegando a uma cultura que eu não entendo, a cultura do absurdo, de ter que fazer o que a minoria quer em detrimento da maioria.

Como o senhor avalia o adesismo do PMDB?

José Dias - Eu acho desenfreado, e é fácil exemplificar. Na atual gestão da presidente Dilma, ou presidenta, como ela quer, o PMDB pode até justificar que participou da campanha, que deu o vice-presidente. Mas antes aderiu. No tempo de Lula foi adesão mesmo. Aí você traz aqui para Natal, é muito fácil. Nós combatemos dona Wilma, mas houve parcelas do partido que a apoiaram. O caso da eleição da Prefeitura de Natal é bem elucidativo. Fui quase execrado por ter votado em Micarla, enquanto o partido apoiou Fátima Bezerra. Mas hoje a liderança do PMDB tem cargos e indicações na Prefeitura. É uma incoerência. São as mesmas pessoas que me condenaram.

O senhor pensa em sair?

José Dias - Se eu tiver a oportunidade de sair sem traumas, sem brigas, posso sair. Afinal, são 50 anos de convivência com o pessoal, além do que grande parte deles são meus contraparentes. Posso sair,principalmente se o novo partido agasalhar pessoas com quem tenho afinidade.

Nesse contexto, o recém- criado PSD, do prefeito Gilberto Kassab, seria uma opção?

José Dias - É a opção mais viável. A lei permite que eu saia sem perder o mandato, porque é um novo partido. E de certa forma seria como se eu voltasse à antiga casa, pois é a mesma sigla à qual já pertenci. Se pudesse resgatar minha ficha de filiação, talvez ela ainda fosse válida (risos). Já houve contatos nesse sentido e já declarei às pessoas que possivelmente vão liderar o partido que eu as acompanharia. O comando deve ficar com o grupo do vice-governador Robinson Faria. Se ele realmente for para o PSD, eu vou também. Depende dele. Não tenho cacife para ir sozinho, nem interesse em ser liderança. Irei para compor com ele. Acredito que o grupo será engrossado por parlamentares de outros partidos.

E o PSD nascerá grande no estado?

José Dias - Considerando o tamanho do Rio Grande do Norte, se tudo der certo será percentualmente a mais forte seção estadual. Acredito quehaja a possibilidade de outras lideranças se juntarem, mas não está havendo caça. Nesse aspecto, pelas conversas de que participei, há cuidado e respeito com os partidos que formam a base do governo. Um comportamento ético. Mas também não se pode fechar as portas.

O senhor acha que a governadora Rosalba Ciarlini (DEM) poderia reforçar o PSD?

José Dias - Não vejo a menor possibilidade, nem imagino isso. Como nunca conversei com ela sobre esse assunto, não tenho ideia. Essas especulações surgem porque Rosalba tem tido uma boa relação institucional com o governo federal, inclusive recebendo visitas de diversos ministros. Há quem diga que ela poderia se unir à base do governo. Na verdade, hoje estados e municípios são 100% dependentes do governo federal. Assim, os governantes têm que manter uma convivência que nem sempre é compreendida pela população. Governadores e prefeitos não podem fazer oposição. O sistema tributário brasileiro é o mais perverso do mundo. O governo federal é o dono do país e monopoliza tudo. Uma das distorções que eu realmente constato e combato é o fato de que o governo federal tem usado esse poder para executar sua política de dominação. Está instrumentalizando a política em nome de um grupo. É claro que o PT tem o "filé", mas há todo um complexo partidário, do qual o PMDB faz parte, que está na jogada. O governo sempre teve a comissão de Orçamento, mas hoje tem também a de Constituição e Justiça. A oposição está perdendo a capacidade de espernear.

É uma tendência nacional?

José Dias - Aconteceu também por aqui. A grande obra do governo estadual anterior foi uma maioria parlamentar tão grande que a oposição não podia fazer CPIs. Todos os processos que envolveram o governo foram originados na iniciativa do Ministério Público, porque a Assembleia Legislativa se omitia completamente da sua tarefa fiscalizadora. Nós apenas levantávamos os problemas, principalmente no plenário, com vozes isoladas. É muito ruim que um poder fique subordinado a outro. A adesão é um desrespeito ao eleitor. Nós somos apenas procuradores.Mas também não sejamos puristas em relação ao eleitorado, que não faz exame de consciência. Ele teria que julgar aquele em quem votou, para corrigir isso. Está comprovado que a política é um espelho da sociedade.

Qual sua avaliação das gestões dos ex-governadores Wilma de Faria e Iberê Ferreira de Souza (PSB)?

José Dias - Quem faz a avaliação mais rigorosa dos governos anteriores são seus defensores. Ainda não vi nenhuma defesa consistente para algumas das acusações feitas. Diante das críticas e mazelas apresentadas, o argumento deles é que estamos querendo olhar no retrovisor. Ora, não é possível dirigir um carro sem cuidado com o retrovisor. Se querem renegar o passado é porque o condenam. Se não defendem, é porque estão totalmente sem argumentos. É o caso da atual oposição, que devia ter coerência e aceitar o debate com absoluta tranqüilidade. Não estamos discutindo pessoas, e sim o futuro de uma sociedade. A herança foi realmente desastrosa, um golpe mortal em relação ao estado. Tirando a ponte Newton Navarro, queliga as zonas norte e leste de Natal e é uma obra inacabada, não houve nenhuma outra obra importante. Acho interessante a falta de consciência cívica da oposição, que apresenta como obra de governo o desenvolvimento de um parque eólico onde a influência do governo foi negativa, com intervenções politiqueiras. O parque eólico vai se realizar como fruto do vento, que está aí desde sempre, e da iniciativa privada. Até agora não há investimento público e o governo anterior nada fez pela infraestrutura. Espero que o atual o faça. Outro exemplo dramático de inoperância e omissão foi o Aeroporto de São Gonçalo. No governo Garibaldi, foram feitas algumas desapropriações, mas a partir daí nada foi realizado. Cobravam do governo federal a conclusão do aeroporto, mas para ele funcionar são necessários estradas, energia, água, saneamento, telecomunicações. E o estado não fez uma cancela sequer. Acho que é o espírito de Sherazade que cuidou dessa obra até agora. É coisa das mil e uma noites. Pelo menos o governo novo tema consciência do que deve ser feito.

Como o senhor vê a questão da Copa do Mundo?

José Dias - É um processo extremamente complexa e de difícil avaliação por um político. Não tem funcionado com racionalidade. No início, houve uma distorção total da realidade. Imaginaram que naquele pedaço do Centro Administrativo iriam construir uma Dubai e todos os envolvidos iriam virar sheiks árabes. Esse sonho morreu. Mas ficou uma expectativa na opinião pública, e também no comprometimento de gastos autorizados, criando uma verdadeira obrigação, para quem veio depois, de dar um resposta positiva a essa reivindicações, sob pena de ser crucificado. Não haverá só benesses. O risco é fazer um investimento muito alto e não ter retorno. O pior é dizer que sem a Copa não haverá Aeroporto de São Gonçalo, nem saneamento, nem mobilidade urbana, nem novos hotéis. A Copa vem sendo apresentada como um "abre te sésamo", um golpe de mágica. E eu não acredito nesse tipo de milagre. Ocorre que esses benefícios não vieram até hoje por falta de verbas. Como é que, gastando mais dinheiro com a Copa, essas verbas vão aparecer? Mas há um problema político enorme. Como o governo atual pode pensar em trancar esse processo? Seria uma culpa eterna, o próprio pecado original. Agora é irreversível. Ao falar assim, estou consciente de que pagarei um preço. Não sou contra a Copa, sou contra o modelo imaginado. É como uma esteira que está rodando e se parar, quebra tudo. Não se pode mudar agora.

O senhor votou a favor do projeto dos royalties.

José Dias - Votei no espírito dessa situação complexa que acabei de apresentar. Se votasse contra, seria um voto inócuo. Não me sinto na obrigação de ser a palmatória do mundo. Votei em solidariedade ao governo atual. Foi um voto de confiança. Esse processo foi mal conduzido desde o início. A Copa não é uma panacéia. Esses resultados milagrosos não aconteceram na África do Sul. Venderam a ideia de que a Copa será a solução para tudo, a começar pela Fifa. Vão criar muitas facilidades, como as mudanças na Lei de Licitação. Pelo menos já notamos uma atenção muito grande dos ministérios públicos e tribunais de contas sobre o assunto.
POSTADO POR CLEUMY CANDIDO ÁS 07:30

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