O lobista Fernando Soares, conhecido como Baiano, fechou acordo de delação premiada para colaborar com as investigações da Operação Lava Jato em troca de penas mais brandas. Ele é apontado como o operador do PMDB no esquema de corrupção.
O acordo foi assinado com a Procuradoria-Geral da República nesta quarta-feira (9). Segundo a Folha apurou, houve dois grandes entraves na negociação: a defesa de Baiano solicitou que o lobista fosse solto assim que assinasse o acordo e o réu queria morar nos Estados Unidos com a família depois que deixasse a cadeia. Em ambos os casos, a Procuradoria não cedeu.

Pessoas ligadas à defesa do lobista relataram à Folha que ele deve permanecer pelo menos mais dois meses preso após o acordo.
Em conversas com procuradores ao longo da negociação, Baiano disse que poderia entregar informações sobre a participação de políticos no esquema na Petrobras.
Entre eles estão o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o senador Delcídio do Amaral (PT-MS).
Também foi relatado à Folha que Baiano confidenciou a companheiros da carceragem que abrirá detalhes sobre a aquisição da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, pela Petrobras.
Antes de assinar o acordo, Baiano e seu advogado, Sérgio Riera, reuniram-se ao menos quatro vezes com procuradores para negociar benefícios ao lobista, preso há quase dez meses. Um dos encontros mais longos foi o de quarta (9), que teve seis horas. As conversas se estenderam por toda a quinta (10).
Até o momento, o operador foi condenado em uma ação, a 16 anos de prisão, e é réu em mais dois processos.
Procurado, Riera disse que não comentaria o assunto.
VIDA NA PRISÃO
Agora, Baiano ficará preso na sede da PF em Curitiba. Dos dez meses em que está preso, Baiano passou quase seis deles no CMP (Complexo Médico Penal), em Pinhais (PR).
No início, o lobista mostrava-se firme no propósito de não fazer uma delação, mantinha rotina diária de exercícios físicos e esforçava-se para agradar os companheiros.
“Sempre que chegavam presos de uma nova fase da operação era ele quem fazia as honras da casa e explicava como o presídio funcionava”, conta um agente da PF.
Uma situação que ilustra o comportamento prestativo de Baiano aconteceu dois meses após ele chegar ao CMP. O sinal da televisão de sua cela não estava bom, e ele conseguiu melhorá-lo com uma espécie de adaptador.
No dia seguinte, não teve dúvidas. Em encontro com o correspondente de seus advogados, pediu que ele comprasse 50 peças iguais para os companheiros.
Baiano também tinha fixação pelo que comia. Evitava gorduras e sempre pedia às visitas barras de proteínas e suplementos alimentares que usava quando estava livre.
A postura altiva e o cuidado com a saúde sumiram quando ele percebeu que as chances de deixar a prisão eram remotas.
Nos últimos meses, Baiano deixou de fazer exercícios físicos, emagreceu mais de dez quilos e passou a falar da família com frequência –especialmente do caçula, que passou a falar “papai” no ano que ele passou preso.