9 de fev. de 2017

Empresas envolvidas na Lava Jato movimentaram cerca de R$ 2,7 bilhões no RN

Grandes obras realizadas no estado tiveram a participação de empreiteiras que estão envolvidas no maior escândalo de corrupção do mundo
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Alberto Leandro
Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Dom Nivaldo Monte é investigada pela Lava Jato


Com sua fase ostensiva deflagrada desde o dia 17 de março de 2014, quando foram expedidos mais de cem mandados de busca e apreensão, prisão temporária, prisão preventiva e condução coercitiva, a Operação Lava Jato, investigação da Polícia Federal que busca apurar um monstruoso esquema de lavagem de dinheiro no país, vem ganhando, mês após mês, novos capítulos que atingem praticamente todos os estados da federação.
Ao todo, 47 empresas (entre estatais, refinarias, construtoras, empresas de fachada e de comunicação) tiveram algum envolvimento no esquema fraudulento, que já é o maior registrado em todo o planeta. Petrobras, Transpetro, Eletronuclear e BR distribuidora são algumas das enjauladas na Lava Jato, além de Odebrecht, OAS, Andrade Gutiérrez e Queiroz Galvão, construtoras conhecidas até mesmo no cenário mundial.
Até o momento, a Operação Lava Jato tem investigação em curso contra aproximadamente 180 pessoas. Entre os investigados estão o ex-presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-deputado federal e ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PDMB), o senador Aécio Neves (PSDB) e o também ex-presidente do país, Fernando Collor de Melo (PTC).
Enquanto isso, outros grandes nomes da política nacional como o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB), o senador também cassado Delcídio do Amaral (à época no PT), o ex-governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral (PMDB), o ex-tesoureiro João Vaccari Neto (PT), o ex-deputado federal José Dirceu (também do PT) e o empresário Eike Batista já estão encarcerados sob acusações graves de corrupção dentro do esquema, que diante de tantos indícios não tem nenhuma previsão para serem finalizadas pela Polícia Federal.
RIO GRANDE DO NORTE
Impulsionado pelos numerosos índices de envolvimento de empresas e personalidades na Operação, o Agora Jornal fez um levantamento para apurar quantas obras foram realizadas no Rio Grande do Norte com a participação de alguma das mais de 20 construtoras presentes no esquema. Em oito obras identificadas, constatou-se que empreiteiras como Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão e Camargo Corrêa (além de outras mais), juntas, participaram de uma movimentação de aproximadamente R$ 2,7 bilhões em solo potiguar.
Contudo, é importante ressaltar que, dentre os oito exemplos que serão apresentados na matéria, apenas um deles está sendo passível de investigação na Operação Lava Jato: a obra da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Dom Nivaldo Monte, situada na região do Baldo, em Natal, capital do estado. Em contrapartida, a obra que mais levantou fundos (algo em torno de R$ 1 bilhão) para ser construída no RN (Usina Termelétrica do Vale do Açu, em Alto do Rodrigues, de responsabilidade da Camargo Corrêa), não passa por nenhum processo investigativo dos poderes de segurança do país.
Neste último caso, no final de 2013, a Petrobras autorizou o pagamento de um valor extra de R$ 139,8 milhões à Camargo Corrêa a título de compensação por despesas adicionais como subcontratações durante as obras da Termoaçu, cinco anos depois da inauguração. A construtora, uma das acusadas pelas investigações de participar de cartel e do esquema de pagamento de propinas na estatal, já havia recebido pelo menos R$ 690 milhões pela obra, segundo informações disponibilizadas à época.
COPA DO MUNDO
Algumas das obras realizadas com o intuito de viabilizar Natal como uma das sedes da Copa do Mundo FIFA de 2014 também tiveram participação de empresas envolvidas na operação. Além da própria Arena das Dunas (construída pela OAS), que recebeu quatro jogos do Mundial e custou algo em torno de R$ 423 milhões, o Complexo Viário Dom Eugênio Sales, viabilizado para trazer melhorias de acesso às imediações da praça esportiva, custou cerca de R$ 222 milhões aos cofres públicos.
No caso do complexo, especificamente, foi feito um consórcio entre a Queiroz Galvão e a Ferreira Guedes para que o projeto saísse do papel. Nesta situação, foram construídos cinco túneis (Avs. Lima e Silva, Jerônimo Câmara, Prudente de Morais, Raimundo Chaves e Romualdo Galvão) e dois viadutos (Av. Prudente de Morais e Av. Senador Salgado Filho). Um dos viadutos segue o modelo estaiado (tipo de ponte suspensas por cabos de aço).
PORTOS
O Terminal Salineiro de Areia Branca (também conhecido como Porto Ilha) e as obras de ampliação do cais do Porto de Natal, todas devidamente licitadas pela Companhia das Docas do Rio Grande do Norte (CODERN), também contaram com serviços das empreiteiras ligadas ao esquema. Juntas, elas somaram R$ 386 milhões. Foram R$ 278 milhões do terminal e outros R$ 108 milhões da ampliação do cais. Empresas como Carioca Engenharia, Queiroz Galvão e OAS participaram das intervenções nos locais.
SOB INVESTIGAÇÃO
Inaugurada em 30 de março de 2010, a Estação de Tratamento de Esgotos Dom Nivaldo Monte, no Baldo, contou com um investimento de R$ 84 milhões, financiados pela Caixa Econômica Federal. A obra foi executada pela Odebrecht e é a única que está listada entre os 38 negócios identificados nos registros de pagamentos do Setor de Operações Estruturadas da empresa – o chamado “departamento da propina” – nas apurações da 35ª fase, batizada de Operação Omertà e que prendeu no dia 26 de setembro do ano passado o ex-ministro Antonio Palocci.
O equipamento, que coleta e trata esgotos de 21 bairros de Natal, a fim de despoluir o rio Potengi, foi inaugurado durante o governo Wilma de Faria, período em que o diretor-presidente da Companhia de Águas e Esgoto do Rio Grande do Norte (Caern) era Walter Gasi. Dos R$ 84 milhões investidos na ETE, R$ 30 milhões foram aplicados em equipamentos de última geração. Um deles, fabricado na Alemanha, é utilizado na desinfecção por raios ultravioleta. Adotando esse sistema a Caern dispensa uso de produtos químicos e evita contato humano graças a automação da maior parte dos serviços.

Obras de empresas envolvidas na Lava Jato em Natal
Obra: Estação de Tratamento de Esgoto Dom Nivaldo Monte, no Baldo, em Natal
Empresa responsável: Odebrecht
Valor: R$ 84 milhões
Conclusão: 2010

Obra: Aeroporto Internacional Governador Aluizio Alves, em São Gonçalo do Amarante
Empresa responsável: Consórcio Inframérica (composto pela Engevix e a Corporación América)
Valor: R$ 410 milhões (até a Copa do Mundo)
Conclusão: 2014

Obra: Usina Termelétrica do Vale do Açu, em Alto do Rodrigues
Empresa responsável: Camargo Corrêa
Valor: R$ 1 bilhão (aproximadamente)
Conclusão: 2008

Obra: Arena das Dunas, em Natal
Empresa responsável: OAS
Valor: R$ 423 milhões
Conclusão: 2014

Obra: Complexo Viário Dom Eugênio Sales (entorno da Arena das Dunas)
Empresa responsável: consórcio formado pela Queiroz Galvão e Ferreira Guedes
Valor: R$ 222 milhões
Conclusão: 2014

Obra: Terminal Salineiro de Areia Branca (Porto Ilha)
Empresa responsável: consórcio formado pela Constremac, Carioca Engenharia e Queiroz Galvão
Valor: R$ 278 milhões
Conclusão: 2012

Obra: Ampliação do Cais do Porto de Natal
Empresa responsável: OAS
Valor: R$ 108 milhões
Conclusão: 2014

Obra: Ponte Newton Navarro, em Natal
Empresa responsável: consórcio formado pela Queiroz Galvão e Construbase
Valor: R$ 194 milhões
Conclusão: 2007
TOTAL: 2 bilhões 719 milhões

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