A divulgação de novos relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), revelando movimentações suspeitas na conta bancária do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), ainda não deve comprometer o Planalto, segundo especialistas.
Recém empossado, o novo governo ainda deve desfrutar da chamada "lua de mel" no Congresso e, mesmo em meio à turbulência, não deve ter as reformas afetadas, mas a análise não é uma unanimidade.
Há quem ache que as consequências podem ser desastrosas para o governo. Em 19 dias à frente do executivo Federal, o número de polêmicas envolvendo o nome de Bolsonaro não para de crescer. Após as denúncias reveladas na noite desta sexta-feira (18/1), Flávio e Bolsonaro se encontraram, em uma reunião privada no Palácio da Alvorada.
Para o cientista político e vice-presidente da Arko Advice, Cristiano Noronha, o suposto envolvimento do filho do presidente no caso Queiroz, cria, sem dúvida, um constrangimento, mas não deve comprometer os trabalhos da atual gestão. "Ainda não tem elementos suficientes para criar algum tipo de problema mais grave. Agora, é um assunto que causa ruído e que gera algum tipo de preocupação. Até porque, não se sabe por quanto tempo esse assunto continuará trazendo novidades", analisou.
Continua depois da publicidade O analista entende ser necessário uma mobilização do Planalto para "dar explicações", e evitar que o fato se transforme em uma grave crise na nova administração. "O presidente não é investigado, é uma pessoa bem próxima da família, mas não é o Jair diretamente. Porém, uma das grandes preocupações é se o assunto conseguiria se tornar complexo o suficiente para afetar os avanços das reformas. Eu ainda não vejo que há essa capacidade, mas é preciso responder perante a sociedade", explicou. Segundo Aninho Irachande, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB), a grande questão é que a família Bolsonaro se elegeu com o discurso de moralizar a política. Então, o início tumultuado da gestão e as articulações que o PSL tem feito para a ajudar na eleição de Rodrigo Maia à mesa da Câmara, atinge diretamente o discurso contrário ao da "velha política".
"Ele já está sentindo algum desgaste com relação a isso. Alguns setores que o apoiavam cegamente, já estão repensando", acredita. Nesta sexta-feira (18/01) vários até então apoiadores criticaram o pedido de Flávio Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir o foro privilegiado. Além disso, ao longo das articulações no Congresso, o governo tem sofrido uma enxurrada de críticas. "A definição que foi atribuída à ex-presidente Dilma (Rousseff), de estelionato eleitoral, é a mesma que pode ser atribuída a Bolsonaro.
Já que Bolsonaro fez um discurso para a eleição, mas que não tem condições de assegurar", enfatizou o Irachande. Outra análise Professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carlos Pereira, vai de encontro à projeção do também especialista Cristiano Noronha. Segundo ele, o "escândalo" cria um desgaste entre o governo e sociedade e pode ser mais perigoso do que se pensa para o governo. "Era importante que a sociedade pudesse pressionar o Congresso e inflasse o preço dos parlamentares que votassem contra o governo Mas se o governo começa a sentir desgastes dessa natureza (como o caso de Flávio Bolsonaro), ele corre o risco de, muito rapidamente, se tornar refém do Congresso e ter dificuldade para aprovar projetos importantes", explica o especialista.
O professor da FGV acredita que ainda é cedo para avaliar se a confiança da população em relação ao governo já foi, de fato, abalada. No entanto, o extrato do eleitorado que votou no ex-capitão por questões estratégicas, como o antipetismo ou a falta de opção, tende a apresentar desgastes mais rapidamente "caso o governo continue insistindo na negação ou na obstrução das investigações". Procurada pelo Correio, a assessoria de imprensa da Presidência da República não soube informar detalhes sobre o encontro do senador eleito com o presidente, Jair Bolsonaro, neste sábado, no Alvorada.
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