‘Meu filho é quem decide’, diz senador nonagenário.
O senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) é o
parlamentar mais idoso dentre os 594 deputados e senadores que circulam
pelo Congresso Nacional. Nesta segunda-feira, ele completa 90 anos.
Desde que iniciou a vida pública, há seis décadas, Garibaldi já foi
deputado estadual e vice-governador, levou tiro dentro da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Norte e acabou cassado pelo regime militar.
Pai do ministro da Previdência Social,
Garibaldi Alves Filho, e tio do presidente da Câmara, Henrique Eduardo
Alves (PMDB), o peemedebista é suplente de Rosalba Ciarlini (DEM), que
se elegeu para o Senado em 2006 mas, em 2010, virou governadora do Rio
Grande do Norte. Garibaldi herdou quatro anos de mandato. Até agora, não
apresentou nenhum projeto – e nem pretende. Fez, em média, menos de um
discurso por mês. Ao site de VEJA, Garibaldi diz que o mandato está à
disposição do filho: “Ele decide. Eu não tenho mais nenhuma
interferência”.
Como o senhor foi parar no Senado com essa idade?
Eu, atendendo a amigos, aceitei a suplência da atual governadora.
Então, ela assumiu o governo e eu fui para o Senado. Foi um caso em que
não houve raciocínio político, de troca de ideias, foi um gesto de
amizade. Ela disse: “Vou precisar de um favor seu. Eu preciso que você
seja meu suplente”. Eu disse: “Pois não, com o maior prazer”.
Quando ela virou governadora, o senhor pensou em não assumir o cargo no Senado?
Não. Eu não cogitaria isso nunca. Não fujo da raia, como diz o matuto.
Porque, já anteriormente, quando fui vice-governador, assumi o governo
alguns meses.
O senhor faz poucos discursos por opção ou por causa da idade?
Não posso subir à tribuna porque tenho um problema de desequilíbrio nas
pernas. E também um problema de audição. Os médicos ficam sempre: “Olha,
cuidado, você pode cair, a queda para você é fatal”. Eu, evidentemente,
tomo certos cuidados. Quando eu assumi no Senado, procurei ter um
comportamento político de lealdade aos amigos e a proveito do estado, e
estou levando.
Como é ser suplente de uma senadora de oposição e, ao mesmo tempo, pai de um ministro de estado?
O meu filho é o meu líder político. Ele decide. Eu não tenho mais
nenhuma interferência. Ele hoje tem uma situação política muito
expressiva no estado, e eu estou me despedindo da política. Em qualquer
atitude política eu tenho que ouvi-lo – ou melhor, me sinto na obrigação
de ouvi-lo.
O senhor apoia a presidente Dilma?
Claro. Lá no Senado, eu voto favoravelmente a todas as mensagens do
governo. Eu acho que a presidente está fazendo uma boa administração.
Com o povo, pelo menos nas últimas pesquisas que eu tive conhecimento,
ela vai muito bem.
Qual foi o momento mais importante do mandato até aqui? Aquelas
mensagens governamentais de repercussão. Essa dos portos, por exemplo.
Eu tenho uma preocupação de não faltar às sessões, embora eu tenha
problemas de saúde. Graças a Deus está dando para cumprir com meu dever.
Pretende apresentar algum projeto?
Não. A não ser que seja solicitado em benefício do Rio Grande do Norte.
Estou apenas ajudando os amigos e sobretudo o meu filho.
Não acha as sessões cansativas?
É cansativo, mas tenho assessores para ajudar. Tenho uma posição muito
discreta, porque eu não posso ocupar a tribuna. Então eu chego ao
Senado, fico atento à Ordem do Dia para votar porque o meu filho é
ministro, é auxiliar da presidente.
O senhor aceitaria participar novamente de alguma chapa na eleição de 2014?
Depende do momento, viu? Mas eu não pretendo mais exercer cargo
político, mesmo que eu esteja na suplência. Não tenho condições físicas.
O senhor aprova o desempenho do ministro Garibaldi Filho? Graças
a Deus ele tem tido um comportamento de muito equilíbrio. É um
ministério difícil, tem problemas graves, mas ele tem conduzido
correspondendo à expectativa da presidente – pelo menos é como eu tenho
sido informado.
O senhor é tio de Henrique Eduardo Alves, atual presidente da Câmara. Acha que ele é a pessoa certa para o cargo? Meu sobrinho foi premiado justamente. Ele é um deputado com mais tempo na Câmara Federal, tem 40 anos de mandato.
Vai ter festa de 90 anos? Só alguns abraços e uma homenagem na
Assembleia. Eu fui deputado estadual por três mandatos. Aliás, tem uma
história um pouco grave, porque fui baleado lá, por um adversário
político. Fiquei hospitalizado quatro ou cinco meses. Foi em 1960.
E ficou alguma sequela? Não.
Mas atribuo isso a esse desequilíbrio nas pernas, embora os médicos
digam que não tem interferência nenhuma. A bala fez um certo estrago.
fonte: http://www.thalitamoema.com.br/site/