Do Jornal Valor
A presidente Dilma Rousseff já não tem restrição ao fato de o PMDB assumir o comando das duas Casas do Congresso Nacional, nas eleições marcadas para fevereiro de 2013. Sua preocupação maior hoje é o Senado, onde quer evitar que o líder do partido, Renan Calheiros (AL), suceda José Sarney (PMDB-AP). Ali, atua em favor do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB), senador licenciado. Na Câmara, quer ver o cumprimento do acordo entre o PT e o PMDB para eleger o líder da bancada, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), no lugar de Marco Maia (PT-RS).
A presidente tem tido motivos para aproximar-se do PMDB e vê com simpatia essa equação no Legislativo. A movimentação eleitoral do governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, é um componente importante. Tanto que a própria presidente interveio no cenário político em Belo Horizonte para unir PT e PMDB contra o PSB. Não é só isso.
No caso do Senado, Dilma receia que uma eventual recondução de Renan ao posto coloque-a como avalista do renascimento político do senador, após sua queda do mesmo cargo em 2007, sob suspeitas de corrupção. Segundo seus interlocutores, a presidente avalia que, se o pemedebista retomar a presidência, levará consigo todo o noticiário negativo que o derrubou, como ligações estreitas com empreiteiras e tráfico de influência. Além disso, abre brecha para que novas investigações sejam realizadas. Em decorrência disso, há no Palácio do Planalto preocupação com danos à imagem que Dilma tenta passar à população, de intransigência com desvios éticos. Por essa razão, oferece ao senador, em troca, o apoio à eleição a governador.
Na Câmara, a atuação por vezes antigovernista do grupo petista ligado a Marco Maia somada às divergências eleitorais entre PT e PSB fazem com que a presidente já defenda Alves na sucessão.
Assim, a presidente não mais se preocupa tanto com a possibilidade de o PMDB presidir as duas Casas legislativas no segundo biênio de seu mandato. Ao contrário, até passou a considerar seus aspectos positivos. O principal deles é dar uma sinalização clara ao PMDB de que o partido é o aliado preferencial para 2014, em um momento em que o PSB do governador de Pernambuco, EduardoCampos, começa a se aproximar tanto da oposição quanto do próprio PMDB. Nesse sentido, Dilma quer demonstrar que o vice-presidente Michel Temer deve mesmo ser o seu vice na reeleição. E nãoEduardo Campos, cuja condição de pré-candidato a presidente, em 2018, acredita, poderia criar muitos problemas na eventualidade de um segundo mandato.
Dilma também prefere dar ao PMDB o comando de todo o Legislativo do que ministérios cruciais para o bom andamento da máquina pública ou postos-chaves no segundo escalão. Isso explica ainda porque a agenda legislativa do governo para o próximo biênio não inclui, por ora, reformas constitucionais e os três quintos de sufrágio e dois turnos em cada plenário legislativo que esse modelo exige.
A tendência, ao contrário, é de que até o final do seu governo continuem predominando na pauta do Executivo no Congresso apenas medidas provisórias, o que a livra da necessidade de ter maioria absoluta dos votos e da dependência dos presidentes das duas Casas, que têm muito poder.
Outra razão tida como positiva no Palácio do Planalto para esse cenário de duplo comando pemedebista no Congresso a partir do ano que vem é que a gestão do petista Marco Maia a desagrada a ponto de achar que possíveis danos com Henrique Alves não poderiam ser maiores. Maia, nessa avaliação, é “imprevisível”. A presidente não perdoa os ataques desse grupo ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, por perda de cargos no Banco do Brasil.
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