7 de abr. de 2011

Fotógrafo pau-ferrense denuncia condições desumanas em ensaio fotográfico




MÁRCIO COSTA
Editor-geral

ADNEISON LINCOLN
Repórter

Tida como exemplo de administração pública municipal de bons resultados, a prefeitura de Pau dos Ferros se mantém envolta num forte cenário de contrastes.

Conhecida pela aplicação de um projeto urbanístico ousado, a principal cidade do Alto Oeste convive num cenário de evoluções estruturais que garantiu destaque estadual, mas com a manutenção de problemas sociais de grande ordem.

Esta realidade foi denunciada num ensaio realizado pelo fotógrafo Franskin Leite, que tem atuado no registro de problemas sociais graves que envolvem a vida em favelas, comunidades de subúrbio e, principalmente, ligados ao lixão da cidade oestana.

"No lixão moram várias famílias que vivem exclusivamente do lixo. Elas vivem numa situação de abandono total tanto do poder público como da sociedade", destaca o fotógrafo.

O ensaio fotográfico realizado no último fim de semana tem gerado uma grande repercussão no município.

Apesar de antiga, a realidade das pessoas que vivem como catadores de lixo é desconhecida por boa parte da população local.

Segundo o relato do fotógrafo, os catadores improvisaram casas com materiais recolhidos no próprio lixão e vivem à margem da sociedade.

"Eles me disseram que não têm outra saída a não ser viver do lixo mesmo. Eles não têm moradia e são pessoas desprezadas pelo poder público em geral"

Franskin Leite destaca que durante o ensaio não identificou a presença de crianças, mas um dos moradores do lixão afirma que aos domingos várias crianças participam da coleta no período da manhã.

"A Pastoral da Criança já teria tentado realizar um trabalho para retirar as crianças do lixão, mas a prefeitura teria negado apoio e o projeto não foi à frente", destaca.

Segundo o fotógrafo, que até poucas semanas era integrante da assessoria de imprensa do município oestano, a iniciativa busca mostrar para as pessoas a realidade maquiada da cidade de Pau dos Ferros.

"Trabalhei seis anos na prefeitura mostrando o lado bom de Pau dos Ferros, mas as pessoas precisam conhecer uma outra realidade. A realidade das pessoas que sofrem sem qualquer assistência do município", conclui.

Prefeito atribui iniciativa a manipulação política

O chefe do Poder Executivo de Pau dos Ferros, Leonardo Rêgo, ao ser indagado sobre as denúncias de crianças e famílias que sobrevivem em situações subumanas no lixão da cidade, declarou: "Esse cara que está denunciando é gente da pior espécie, um típico batedor de carteira. Tenha muito cuidado com essas informações, pois essa pessoa trabalha para um grupo perigoso da cidade. O que ele quer é polemizar".

Para o prefeito, o culpado pela não-erradicação das atividades no lixão é o seu antecessor, o ex-prefeito Nilton Figueiredo. Segundo ele, o antecessor recebeu recursos federais da ordem R$ 700 mil para a construção de um aterro sanitário municipal e não o fez.

"Ele está sendo processado porque utilizou os recursos e não construiu o aterro ao qual os recursos tinham sido destinados. Com isso, o município ficou impedido de obter novos recursos federais junto à União", revela Leonardo Rêgo.

Entretanto, a Prefeitura Municipal de Pau dos Ferros afirma que as medidas estão sendo tomadas para a desativação do lixão e construção de um aterro sanitário em parceria com 44 municípios do Médio Oeste.

"O aterro regional será construído através de um consórcio. Vamos desapropriar a área ao lado do lixão, e os recursos na ordem de R$ 5 milhões para a obra já estão assegurados. Inclusive, técnicos estiveram ontem na cidade para analisar a área. O início das obras depende agora dos trâmites burocráticos, mas os recursos estão garantidos", assegura o prefeito Leonardo Rêgo.

Em relação ao trabalho infantil no lixão, o chefe do Executivo afirma que as equipes da Secretaria de Ação Social estiveram no local ontem à tarde e constataram que não há crianças atuando como catadores de lixo.

"Existem adultos catadores no lixão, mas não descarto que essa pessoa que tirou as fotos tenha levado crianças só para registrar as imagens. Além disso, a Secretaria de Ação Social já fez um trabalho de checagem semelhante antes", ressalta.

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